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LIRA, José Tavares Correia de. O urbanismo e o seu outro : raça, cultura e cidade no Brasil, 1920-45. In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR, 8., 1999, Porto Alegre. Anais… Porto Alegre: ANPUR, 1999.
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Dados do autor na base InfoHab:
Número de Trabalhos: 11 (Nenhum com arquivo PDF disponível)
Citações: 1
Índice h: 1  
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Resumo

No horizonte deste trabalho, proponho reinscrever o ponto de vista urbanístico no bojo da discussão raça/cultura no Brasil. Ponto central das plataformas nacionalistas até pelo menos a década de 1940, instância razoável de avaliação da atualidade política e relevância social de quase toda opinião que entrasse em voga no período, estes dois conceitos centrais ao desenvolvimento da Antropologia no país seriam freqüentemente mobilizados em prol do autoconhecimento do brasileiro a partir da explicação de seu passado. E isto antes e ao mesmo tempo que o ensaio histórico se enviesava em interpretações radicais do Brasil. De fato, escorando-se no imenso debate iniciado por volta de 1880 sobre as virtudes e mazelas do cruzamento racial para o destino da nação, o discurso do racismo científico, sob o influxo da leitura dos trabalhos de Franz Boas em antropologia cultural, sofreria um deslocamento no início do século XX. Com Boas, descobre-se que o mundo na verdade era povoado por poucas raças, um emaranhado de cores, crânios e cabelos e um sem número de culturas. Alberto Torres, por exemplo, leitor de Boas, sensível ao ideário nativista e um dos mais severos críticos do etnocentrismo das teorias racistas em vigor, já no início do século encontraria na educação e na cultura do brasileiro a raiz do problema nacional. Mais do que efeito da constituição racial do povo, este problema nacional ou bem resultaria da alienação das elites da realidade brasileira, ou bem da inexistência no país de uma herança instintiva de tradições e costumes, que ele chama de nacionalidade. Daí a necessidade, tão retórica quanto politicamente recomendável, de se traduzir o termo raça por cultura, afinal a resolução dos problemas brasileiros, a regeneração e reivindicação de uma identidade mestiça para o povo - a exemplo do homem latino-americano - deveria ser pensada no âmbito das "soluções nacionais" e não importadas de ambientes e sociedades alienígenas. Só assim a inferioridade do povo, acidental ao invés de biológica, poderia ser desfatalizada e o caráter nacional, necessariamente artificial, formado.
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